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Objetivamente a razão de existir deste blogue é não deixar perder algumas ideais reproduzidas na essencia das palavras escritas, para que não mais existam duvidas acerca do pensamento do autor.
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sexta-feira, 15 de julho de 2011

Deus está morto, Nietzsche está morto e eu mesmo ando algo escaralhado ultimamente…

Uma das expressões que mais me surpreendem do que falam por aqui é “Já cá não está quem falou”. Encontro-a deliciosa, com um sentido muito honesto, quase fofinho. (Outra das expressões que mais me assombram é o “Caralhos me fodam!”, tão ambígua ela… nunca sei se estão a maldizer ou implorar).
Acontece-me hoje como na primeira frase, mas ao inverso (os que achavam que isto era sobre caralhos, podem deixar de ler). Quem fala agora não está. Não é. Voces até podem achar piada, mas é uma questão enrevesada. E eu vivendo todos estes anos  na ignorância (como, por outra banda, 80% da blogosfera portuguesa… só que eu não faço questão de disfarçar). Ainda bem que chegou o 31 da Armada.

Resulta que um gajo vai levando como pode os seus ossos por aí adiante sem saber que não é um próprio. E isso, reconheçam, é grave. Se o oráculo de Delfos advertia “Conhece-te a ti próprio” (Nosce te ipsum na tradução latina… não achem que eu não tenho estudos ou Google), na blogosfera portuguesa já está Rodrigo Moita de Deus no 31 da Armada para solucionar o assunto. “Ouve lá que eu já te conto” comenta o blogger anunciado na TV. E eu, que tenho tendência em acreditar em adultos que se transvestem como personagens de filmes de ficção científica, acredito e ouço (que já me conta). O coiso é que não existo. Não há Galiza nem galegos do norte, sul ou centro-oeste. Existem, explica Rodrigo (observem, por certo, o detalhe de gentleman de colocar dois links para a concorrência… vão também os artigos que iniciaram isto), portugueses do norte da península. Não achem que aquilo não me deixa perturbado… (que um adulto se disfarce como se fosse um nerd norte-americano numa ComicCon também, claro, mas principalmente o dos galegos). Não posso deixar de imaginar um senhor com barba vestido à mocidade portuguesa enquanto escreve, com um mapa do eixo atlântico bem grande na parede cheio de desenhos de trincheiras (e eu faço mesmo questão que, quando imagino alguém em fato escolare, essa pessoa seja do género feminino).
Antes de mais queria agradecer ao Rodrigo. Primeiro por, apesar de escrever no 31, ter só dois apelidos, para citar é muito mais cómodo. Depois por chamar-se de Deus. Sempre teve confiança nas pessoas que vinham recomendadas. Já o Moita tem aquela reminiscência ao sotaque do norte que não deixa de ter piada visto o assunto, para além de uma origem obscura (do dark side) segundo a infopedia (já viram a minha capacidade para citar fontes completamente insustentáveis só porque dá jeito?). Finalmente: por pensar e reflectir sobre a identidade do norte do Minho (desconfio que não falava da Galitzia centro-europeia, embora não fecho essa porta), ocupação com a qual eu achava que só perdíamos tempo os galegos. Caro de Deus: Os galegos,  já sabes, somos boa onda. Mas se começarmos com insultos, mau assunto. Esta cena de espalhar a portuguesidade por aí pode trazer problemas com a OMS. Não é bom armar-se em Egas Moniz que o homem já fez o seu trabalho.
Não é novo ou coisa à qual não esteja acostumado, isto da galeguidade dos galegos. Cada pouco tenho que ouvir a um português explicar-me (que detalhe!) o que eu sou e o que deveria ser (mas até agora nunca por nenhum monárquico). E sempre chega o momento do “o que os galegos queriam era ser portugueses”. Delicioso: não só este senhor sabe o que eu sou ou deixo de ser mas também o que eu quero! Porém, Rodrigo não se interessa com os desejos dos galegos. Afirma que somos portugueses do norte e acabou. O que não deixa de ser útil, já que poupa imensa discussão. E o galego, nesta caso este que escreve, suspira… Não nos chega com aturar espanhóis (sim, também vão nas férias falar aos gritos à Galiza), mas agora também portugueses… estamos feitos.
Confesso que vos tenho carinho. Muito. Levo seis anos neste país (que terminam agora, por certo) e reconheço que fiquei algo português, como diziam no filme. As chamuças, Alfama, a alta de Coimbra, as chamuças, a ribeira do Douro, os cafés a 0´60, a possibilidade de poder viver em galego (a sério, não têm a menor ideia de quanto é que agradecemos isso), as chamuças… Vários exemplos (algum até indiano) do que me faz desfrutar de vocês e o país nosso (se me permitem a apropriação sentimental). Mas não percebo como é que os portugueses querem ser portugueses, quanto menos os galegos. E, pelos vistos, não ando longe do assunto, segundo o jornal SOL (mais outra vez, como no caso da infopedia…não tenho remédio).
ai, Jorge....
Não faço, isso sim, mínima ideia do que queremos os galegos. Um povo que se debate entre o “Deus fratesque gallaecia” e o “Somos galegos e non nos entendemos” só pode ser esquizofrénico (olha que se calhar o Moniz…). O debate anda, resumindo, entre ser espanhóis, galegos, as duas coisas ou não sabe não contesta (opção, por certo, de preferência, o que demonstra a sabedoria do povo galego). Ainda sendo conscientes da proximidade do norte de Portugal e da continuidade que supõe em muitos aspectos, não estamos muito na onda de anexar território ou entrar já nas sessões SM da Troika. Temos bastantes problemas com tomar, mal, conta de nós. (e ainda não perdoamos aquela semi-final contra o Porto… grrrrr).
Não digo que não desse jeito, atenção: poderíamos juntar as piores TVs públicas que conheço, as equipas galegas poderiam voltar a Europa, ter chamuças… mas está aquilo da dívida e do Alberto João Jardim e mais o Toni Carreira… não sei. Esta coisa de colocar a bandeira portuguesa em azul e branco é um detalhe mas, Rodrigo, acho que não dá. Além do mais, o cantor galego mais português já dissera aquilo de “Camaradas lá do norte venham ao sul trabalhar que nas nossas cooperativas há sempre mais um lugar”. Porra! Trabalhar?? Oh Xosé, faz favor!
Porém, o mais perturbador na ideia do Rodrigo é que declara ter uma visão “imperialista” da coisa. O galego, pessimista per se, espera o pior. Não tínhamos suficiente com o terrível campeonato das nossas equipas, as portagens no norte, termos um verão de merda todo grisalho (o que, infelizmente, não impede que cheguem madrilenos para berrar por todo o lado) ou o roubo do Códice Calixtino, que agora chega uma cambada de viriatinhos com capacetes da guerra das estrelas prontos para a conquista… Tenham dó, pessoal!
Bom, vou embora para Galiza a impedir a desfeita. Galegos somos boa onda, já disse, mas no rural não suportam palhaçadas e andam todos com caçadeiras. Já houve quem ficasse contente com a ideia da visita…
Por certo, e falando do Códice Calixtino, Se forem a Compostela vejam o Panteão Real (e aproveitem para devolver o livro, não sejam ruins). No sartego do Conde da Traba, justo entre as pernas, anda a origem de muitas destas questões.
/ abraços a todos, ao Rodrigo (mais links! mais visitas!) e ao Fernando (ainda se poderia falar mais do tema da euro-região, da Galiza e do Norte de Portugal, mas fica para outra), e boas férias. Foi um prazer. /
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 Antonio Mira

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