Palavras... ideias... registos para a posteridade

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Objetivamente a razão de existir deste blogue é não deixar perder algumas ideais reproduzidas na essencia das palavras escritas, para que não mais existam duvidas acerca do pensamento do autor.
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sábado, 6 de agosto de 2011

Rua da Boavista – uma rua velha e triste como um ser humano

Esta manhã passei na Rua da Boavista no sentido São Paulo – Conde Barão e fiquei desolado. Uma rua que foi viva, cheia de gente atarefada, a rua por onde eu passei todos os dias úteis nos anos 90 quando trabalhava na Rua do Instituto Industrial, parece hoje morta, quase sem ninguém a cruzá-la, uma rua despovoada, muito triste, quase hostil.
A rua tinha muitas lojas, lojas grandes e pequenas de onde entravam e saíam homens de fato-macaco azul, trazendo nas mãos ferramentas e motores, torneiras e rebites, sacos de cimento e lata de tinta, as velhas lojas da Rua da Boavista estão hoje vazias e trancadas a cadeado. Em muitas delas o correio acumula-se sem ninguém o ler, muitos são os ferros que seguram o corpo esventrado dos prédios desocupados. Há um cheiro a mofo e a podre nos prédios abandonados desta rua que hoje percorri.
Já só passa nesta rua um eléctrico (o 25 dos Prazeres para a Rua da Alfândega) mas quando um qualquer manga- de- alpaca obscuro, fechado no gabinete, descobrir que o eléctrico não dá lucro, vai logo acabar com a carreira. Aqui passaram os carros eléctricos de Belém para o Poço do Bispo com direito a bilhete de operário se comprado até às sete e meia da manhã.
Uma rua na cidade é, afinal, como uma pessoa: também envelhece e fica doente. A Rua da Boavista é como uma pessoa: está velha e triste como se fosse um ser humano.
Deixei de lá passar em 1996 e voltei hoje mas o vazio assustou-me. Sei que o Mundo mudou mas não esperava que essa mudança fosse assim e tanto assim. Passar pela Rua da Boavista e encontrar uma rua desolada e vazia que outrora foi uma artéria viva e cheia de gente, não estava no meu programa.

In: Aspirina B

Um comentário:

  1. Uma rua que para mim também é uma referencia, pois na minha juventude muitas vezes ali fui tratar de assuntos a pedido do meu pai, que necessitava de maquinaria para os seus afazeres profissionais numa representação que tinha, estabelecida na Rua Sebastião Saraiva Lima.
    Tem também referencias familiares.
    Quando por ali passei a ultima vez, em Dezembro passado, quando me desloquei a Europa, fiquei estarrecido com tamanha tristeza.
    Uma rua cheia de vioda que agora não passa de uma zona moribunda.

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