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domingo, 7 de agosto de 2011

PSD e CDS. Um casamento de fachada que tem tudo para correr muito mal

Paulo Portas sabe que a sua carreira política pode acabar com esta coligação. Mas já mostrou nestes 15 anos que é um sobrevivente e que os Negócios Estrangeiros podem estar à altura das suas necessidades. Pedro Passos Coelho, mais tenro nestas lides, faz o que pode, e muitas vezes não deve, para o controlar


Desconfiança, medo, tensões medianamente controladas. O governo de coligação é um casamento de fachada, em que os protagonistas fingem o que podem em público - mas em privado, genuinamente, não se podem ver e praticam o bullying político nem sempre com a discrição devida.

Primeiro ponto, essencial: os sociais- -democratas desconfiam de Paulo Portas, que, politicamente, tem uma experiência muito mais larga que Passos Coelho. Desconfiam e têm medo: todos sabem que Portas não padece da ingenuidade que por vezes atinge o primeiro-ministro e é um sobrevivente. Para conter a força de Portas foram feitas as diligências possíveis, para evitar que o líder do CDS controlasse sozinho o Ministério dos Negócios Estrangeiros: a colocação de Francisco Ribeiro de Menezes, embaixador de carreira, no cargo de chefe de gabinete do primeiro-ministro (com imensa experiência da máquina ministerial, depois de ter dirigido os gabinetes de Jaime Gama e de Luís Amado) foi uma peça nesse damage control. A pasta do MNE é fortíssima por duas razões: genericamente, dá popularidade nas sondagens. Em tempos de crise, sem ter de lidar com os cortes da despesa nem com os problemas das corporações, como a dos médicos e a dos professores, é provável que dê ainda muito mais popularidade que aquela que é costume. Com a crise do euro, a pasta do MNE passou a ter uma importância desmedida - o risco de Passos Coelho ficar refém de Portas, e das informações de Portas, para gerir os Conselhos Europeus é considerado muito grande no PSD. Também aí a escolha de Ribeiro de Menezes teve um objectivo preventivo, segundo fontes do PSD.

A "vingança" de Passos Coelho contra o seu parceiro de coligação foi avocar uma das grandes tarefas do MNE: a diplomacia económica, que ficou, na orgânica do governo, na dependência do primeiro-ministro. E quem foi Passos Coelho buscar para fazer uma espécie de "programa do governo" na vertente diplomacia económica? Nada mais nada menos que um arqui-inimigo de Paulo Portas - um ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva, Jorge Braga de Macedo, que mantém um diferendo com Portas desde os tempos em que este era director de "O Independente" e denunciou a entrega de um subsídio do IFADAP, na altura gerido por Henrique Granadeiro, para jovem agricultor a uma propriedade da família do ministro, o Monte dos Frades. O jovem agricultor era um sobrinho de Braga de Macedo.

O ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva nos princípios dos anos 90, o tal que via um oásis quando o país estava em recessão, vingou-se agora na diplomacia económica do facto de Passos Coelho não ter vetado a ida para as Necessidades do seu inimigo. Mas fez tudo o que podia e não podia e foi o último a desistir na tentativa de dissuadir o líder do PSD de aceitar a imposição de Portas de ser ministro dos Negócios Estrangeiros.

O discurso de Paulo Portas na Madeira no fim-de-semana passado perturbou enormemente os sociais-democratas. A "liberdade" com que Portas se atirou a Alberto João Jardim - um "ícone" do PSD, apesar de distante de Passos Coelho - foi lido por alguns sociais-democratas como um sinal do "poder total" com que Portas se sente nesta coligação. Afrontar Jardim ao fim de um mês de governo é obra: no fundo, Paulo Portas, ao denunciar o "despesismo" da Madeira, impôs balizas à negociação do próximo Orçamento do Estado. Na Madeira, Paulo Portas comparou Jardim com Sócrates: "No país, os socialistas fizeram uma política de endividamento para lá do que era aceitável e aqui, na região da Madeira, os sociais-democratas fizeram uma política de endividamento que é também para lá do aceitável. E para sermos coerentes temos de propor aqui a mudança que também o país como um todo já percebeu. É que não é possível continuar a endividar mais um país ou uma região." Jardim respondeu à sua maneira habitual: disse que não conhecia Portas de lado nenhum. E Marcelo Rebelo de Sousa, um especialista em atirar gasolina para as fogueiras e velho inimigo do líder do CDS/PP, veio logo recordar que Paulo Portas, nos tempos da coligação com Durão Barroso, nunca ousou atirar-se a Alberto João Jardim ou criticar qualquer outro dirigente laranja.

Esta é a pior altura para qualquer partido estar no governo. O CDS enfrenta o mesmo dilema que os Lib-Dems no Reino Unido: associados aos conservadores e às suas políticas de austeridade, correm o risco de desaparecimento nas próximas eleições. Portas, o político no activo cujo instinto de sobrevivência mais se tem revelado nos últimos 15 anos, não quer que o CDS volte a ser o "partido do táxi", lugar onde ficou colocado a partir de 1987, depois de Cavaco Silva ter aglutinado toda a direita com as suas maiorias absolutas. Se Paulo Portas tivesse conseguido um resultado eleitoral mais forte, poderia ter capacidade negocial maior dentro da coligação. Mas isso não aconteceu - trata-se agora de gerir o dia--a-dia sabendo que na guerra e na política (e às vezes no amor) ou se mata ou se morre. A coligação governamental pode durar um ano ou três anos. Mas no fim entre Passos Coelho e Paulo Portas só sobrará um. E se Paulo Portas já percebeu isto há muito tempo, Passos Coelho está a começar a perceber. 
 
In: I

2 comentários:

  1. Zeferino Nascimento

    Um não tem vergonha! O outro vergonha não tem! PPC passo a passo pôs PP pra provar o croquete redondinho e saboroso. Guloso aceitou! Mas,vaidoso,ao não ter cadeirão no Conselho do Estado a que isto que já foi Portugal chegou,vai tirar a desforra. Entretanto, quem se lixa é...o mexilhão! Siga a Banda.

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  2. Governo tóxico: Jardim e Portas abalam aliança. Até quando resistirá?
    por Luís Claro, Publicado em 02 de Agosto de 2011

    Portas e Passos vão ter de resolver divergências como a redução de deputados ou algumas privatizações

    Paulo Portas não é novo nestas alianças. Já esteve no governo com o PSD de Barroso, e depois de Santana, entre 2002 e 2004.
    A troca acesa de críticas entre Paulo Portas e Alberto João Jardim levou Marcelo Rebelo de Sousa a deixar um alerta: "Isto não é bom para a coligação. Há patamares-limite entre partidos coligados". O ex-líder do PSD sabe, por experiência própria, que as alianças entre partidos em Portugal não são duradouras. Em média as coligações de governo não duraram mais de dois anos e entre o PSD de Passos e o CDS de Portas há ainda muitas afinações a fazer.

    Os dois partidos já caminharam juntos por fez quatro vezes, mas desta vez são muitos os temas sensíveis que os separam. Caso da privatização da RTP ou da Águas de Portugal, a redução da Taxa Social Única ou diminuição do número de deputados. A tudo isto que já vem de trás somam-se uma troca azeda de declarações entre Paulo Portas e um peso pesado social-democrata, Alberto João Jardim. Os rastilho desta coligação está aceso, resta saber se é longo o suficiente para resistir quatro anos.

    "Essas coisas não são das mais saudáveis, nem das mais simpáticas, mas são próprias de uma coligação", diz o social-democrata Rui Machete - que pertenceu ao governo do Bloco Central - sobre a troca de mimos entre Passos e Jardim.

    O assunto é delicado e a prova disso é que nenhum dos dirigentes do PSD ou do CDS aceitou comentar as farpas lançadas pelos dois lados. "Não me meto nisso" ou "não tenho nada a dizer sobre isso" foram as respostas mais ouvidas pelo i.

    Marcelo - há quem diga que foi um comentário envenenado - avisou que Portas tem mais "peso político" com Passos do que com Santana Lopes, mas o histórico do PSD, Miguel Veiga, não concorda. "Parece-me que os pesos estão equilibrados. Eles sabem que, no aspecto político, não poderão viver um sem o outro", diz o ex-dirigente social-democrata. Em todo o caso, Veiga lembra que "o CDS, como partido mais pequeno que é, terá de ter sempre menos peso".

    A crise que o país vive e a necessidade de cumprir o programa da troika facilitam, no entender dos sociais-democratas, a manutenção da coligação. "Estamos a atravessar um momento tão difícil que não se podem pôr pequenos aspectos à frente da necessidade de que a coligação funcione", avisa Rui Machete.

    Certo é que até dia 9 de Outubro - data das eleições regionais - os ânimos não vão arrefecer na Madeira, já que o CDS quer marcar pontos naquela região e aproximar-se ou mesmo ultrapassar os socialistas. Quanto às europeias e às autárquicas de 2013, os partidos ainda não sabem se vão concorrer juntos ou separados. "Ainda ninguém pensou nisso. Não está nada previsto", diz ao i um membro da direcção do PSD. Se a receita fosse a mesma das últimas legislativas, os dois partidos avançavam cada um por si para os próximos actos eleitorais.

    O politólogo José Adelino Maltez pensa que "o problema da coligação é que revela, ao fim de um mês, não foi minimamente preparada em termos de alternativa". "É uma coligação que foi mais negativa do que reformista", diz o politólogo prevendo que "o problema vai ser a falta de ideias claras sobre como reformar o país". A preparação do Orçamento do Estado para o próximo ano vai ser um dos sinais importantes sobre o futuro desta aliança, já que os dois partidos vão ter muitas divergências para contornar.

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